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Pesquisa com bactérias na Amazônia pode desenvolver novos medicamentos

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A pesquisa farmacêutica no Brasil ganha um novo impulso com a parceria entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que tem como objetivo identificar substâncias com potencial antibiótico e antitumoral. Para isso, cientistas estão utilizando o Sirius, o maior acelerador de partículas da América do Sul, localizado em Campinas (SP). O projeto está investigando bactérias amazônicas e seu potencial para a criação de novos medicamentos.

Em 2024, amostras de solo coletadas do Parque Estadual do Utinga, na Amazônia, foram enviadas para o Sirius. O solo foi analisado em busca de genes bacterianos que poderiam levar à descoberta de novos fármacos. As amostras revelaram moléculas previamente desconhecidas, e os resultados iniciais dessa pesquisa foram divulgados em dezembro em uma revista especializada internacional.

Parceria entre CNPEM e UFPA

O trabalho começou com a coleta de amostras de solo de áreas do Parque Estadual do Utinga, uma reserva de conservação que, desde 1993, abriga tanto áreas restauradas quanto áreas sem intervenção humana recente. O grupo de pesquisadores investigou bactérias de duas classes, Actinomycetes e Bacilli, com destaque para os gêneros Streptomyces, Rhodococcus e Brevibacillus.

Usando o sequenciador PromethION, desenvolvido pela Oxford Nanopore (Reino Unido), o time liderado por Diego Assis das Graças da UFPA fez a análise dos genomas bacterianos, identificando genes capazes de criar enzimas e substâncias com grande potencial biológico. Mais da metade dessas substâncias era desconhecida até então.

Inovações tecnológicas e sequenciamento genético

O sequenciamento genético realizado com o PromethION, junto com a análise avançada no LNBio e o uso do acelerador Sirius, tornou o processo de sequenciamento genético mais rápido e acessível, diminuindo custos e tempo comparado a métodos anteriores. Essas tecnologias permitiram aos pesquisadores estudar bactérias selvagens, aquelas que não podem ser cultivadas facilmente em laboratório. Estima-se que menos de 10% das espécies de bactérias selvagens sejam cultiváveis em ambientes laboratoriais, e que, quando cultivadas, menos de 10% dos genes dessas bactérias se expressem adequadamente.

Daniela Trivella, coordenadora do projeto, explicou que essas técnicas possibilitam a descoberta de moléculas que, antes, não poderiam ser produzidas em laboratório. “Muitas dessas bactérias e suas moléculas ainda são desconhecidas, e a Amazônia continua a ser um território rico e pouco explorado para o desenvolvimento de novos produtos”, destacou.

Fase de laboratório e potencial farmacológico

O processo de metabologenômica, que envolve a transferência de genes entre espécies bacterianas, permitiu aos pesquisadores “ensinar” bactérias laboratoriais a produzir substâncias que antes eram criadas apenas pelas bactérias selvagens da Amazônia. Com isso, essas substâncias podem ser extraídas e utilizadas no desenvolvimento de novos fármacos.

Essa abordagem tem grande potencial, já que os laboratórios no CNPEM são capazes de realizar até 10 mil testes diários. A velocidade desses testes pode ser decisiva no momento em que o Brasil enfrenta uma devastação ambiental crescente, com o aumento das queimadas e incêndios na Amazônia.

Investimentos em pesquisas

O apoio financeiro para esse tipo de pesquisa tem aumentado, com R$ 500 milhões sendo destinados para projetos de bioprospecção na Amazônia, o que contribui para o desenvolvimento sustentável da região e a valorização econômica de seu território e biodiversidade.

O trabalho de descoberta de fármacos é realizado na Plataforma de Descoberta de Fármacos LNBio-CNPEM, que vai desde a preparação de bibliotecas químicas e seleção de alvos terapêuticos, até o desenvolvimento de moléculas protótipo para testes clínicos.

A continuidade do trabalho

Os pesquisadores planejam expandir suas investigações para a Amazônia oriental, buscando mais moléculas e substâncias naturais que possam ser utilizadas no desenvolvimento de novos tratamentos, especialmente contra infecções e tumores.

Essa pesquisa está inserida no esforço maior de criar um centro de pesquisa multiusuário na UFPA, com o apoio do CNPEM e de projetos nacionais como o Iwasa’i, do CNPq/MCTI/FNDCT.

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