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Marcantes na última década, enredos políticos dão lugar a críticas sociais no carnaval de 2025

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Por Gabriel Gomes

As doze escolas de samba que desfilam no Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro já definiram os sambas-enredo para o espetáculo, que acontecerá em março de 2025. Muito presentes no final da última década, sobretudo durante as gestões do ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), as críticas políticas mais diretas deram lugar às questões sociais.

“Você teve um Brasil muito marcado pelo horror bolsonarista e as escolas de samba repercutiram isso, evidentemente. Podem vir a repercutir de novo, não tem nada fechado. Mas, todo enredo é político. O enredo afro-brasileiro, por exemplo, já é essencialmente político, mesmo que aparentemente não seja”, comenta o historiador Luiz Antônio Simas, que é um dos compositores do samba da Unidos da Tijuca para o próximo carnaval.

Luiz Antônio Simas é um dos compositores do samba da Unidos da Tijuca para o próximo carnaval, junto com a cantora Anitta. (Foto: Reprodução)

Não tem futuro sem partilha…Nem Messias de arma na mão”. Esses versos do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira no carnaval de 2020 marcaram uma fase em que a Verde e Rosa fez críticas à ascensão da extrema direita no país. Em 2019, a escola cantou “Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”.

No próximo carnaval, a Mangueira trará, em seu samba-enredo, uma crítica à violência contra a juventude negra. O enredo da escola, “À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, abordará a herança cultural do povo banto no Rio de Janeiro. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França.

Enredo da Mangueira abordará a herança cultural do povo banto no Rio de Janeiro. (Foto: Divulgação/ Mangueira)

A Mangueira vai trazer um olhar para construção de uma alma preta carioca, mostrando como isso foi influenciado pela presença africana dos bantos na cidade. A bagagem linguística, cultural, religiosa e filosófica trazida de Angola, Congo e Moçambique somada às experiências vividas por esses povos no Rio forjaram o que somos hoje”, explica Paulinho Bandolim, um dos compositores do samba da escola.

O samba-enredo da Verde e Rosa traz passagens críticas, como “O alvo que a bala insiste em achar. Lamento informar… um sobrevivente” e “Meu som por você criticado, sempre censurado pela burguesia. Tomou a cidade de assalto e hoje, no asfalto, a moda é ser cria”.

A Mangueira quer mostrar que toda violência vivida pelo povo preto carioca nos nossos dias nada mais é do que a continuidade da necropolítica enfrentada pelos bantos no Rio desde os tempos de escravidão”, resume Paulinho Bandolim.

O Paraíso do Tuiuti, escola vizinha à Mangueira, também centrou críticas ao momento político vivido pelo país no final da última década. Em 2018, por exemplo, a escola trouxe um “presidente vampiro” de destaque, em referência ao ex-presidente Michel Temer (MDB) e uma ala de manifestantes fantoches.

Em 2019, com o enredo intitulado “O Salvador da Pátria”, a escola fez referências ao presidente Lula (PT). O Tuiuti usou a história verídica do Bode Ioiô, que nos anos 1920 chegou a ser eleito vereador em Fortaleza, mas não assumiu. “Do nada, um bode vindo lá do interior, destino pobre, nordestino sonhador, vazou da fome, retirante ao Deus dará, soprou as chamas do dragão do mar”, dizia o samba da escola.

No próximo carnaval, o Paraíso do Tuiuti fará uma crítica à LGBTQIAP+fobia, contando a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.

Xica Manicongo é referência, mas quantas Xicas morreram lutando? Quantas hoje sofrem a opressão de uma sociedade preconceituosa, essencialmente machista? A gente quer uma mensagem de luta, mostrar que todos têm direitos”, explica o compositor Cláudio Russo

O samba-enredo da escola, assinado por Claudio Russo e Gustavo Clarão, promete ser um grito contra a LGBTQIAP+fobia. “É impossível falar do grande símbolo da luta contra a transfobia, que é Xica Manicongo, e não ter um tom crítico, com um samba provocador”, comenta Cláudio.

Paraíso do Tuiuti contará na avenida a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. (Foto: Reprodução)

A letra do samba tem passagens como ”Faz tempo que eu digo não ao velho discurso cristão”, “Eu, travesti estou no cruzo da esquina pra enfrentar a chacina que assim se faça” e “Este dedo que acusa não vai me fazer parar”.

Enredos

No próximo carnaval, nove agremiações, incluindo Mangueira e Paraíso do Tuiuti, levarão para a avenida temas ligados à cultura afro-brasileira. Das outras três escolas, a Vila Isabel apresentará o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, do carnavalesco Paulo Barros. A Mocidade aposta na temática futurista, com o enredo “Voltando para o futuro – não há limites para sonhar”. Já a Grande Rio contará as encantarias do estado do Pará.

A atual campeã, Unidos do Viradouro, vai apresentar o enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos”, que conta a história de uma entidade afro-indígena que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exú Trunqueiro. A Unidos da Tijuca contará a história do oríxa Logun Edé.

A Imperatriz Leopoldinense, após 46 anos, terá um enredo “afro”, contando a história da visita de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô. Maior campeã do carnaval carioca, a Portela fará uma homenagem ao cantor Milton Nascimento.

A Beija-Flor homenageará Laíla, personalidade histórica da escola, abordando sua religiosidade e carreira no carnaval. A Unidos de Padre Miguel, de volta ao Grupo Especial terá o enredo “Egbé Iya Nassô”, sobre a história da africana Iyá Nassô e do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil, o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho. O Acadêmicos do Salgueiro apresentará o enredo “Salgueiro de corpo fechado”.

Carnaval de 2025

Os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro ocorrerá, pela primeira vez, em três dias no carnaval de 2025, nos dias 02, 03 e 04 de março.

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