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Campanhas eleitorais e o papel das drogas no debate político

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Estamos em ano eleitoral, com eleições municipais no Brasil e presidenciais nos EUA, e parece que falar sobre drogas se tornou uma pauta incontornável. Nos Estados Unidos, os candidatos à Casa Branca falam abertamente sobre a legalização da maconha na esfera federal. Kamala Harris, caso vença, herdará uma dívida de campanha de Biden, que foi eleito prometendo uma legislação federal e o indulto de pessoas condenadas por uso de maconha. Nem Donald Trump, que surfa na onda da extrema-direita e chegou a acusar imigrantes de “comer animais domésticos”, consegue se opor à legalização federal da planta.

Historicamente, presidentes dos Estados Unidos já admitiram o uso de drogas em algum momento de suas vidas. Em 1992, Bill Clinton fez a famosa declaração de que experimentou maconha, mas “não tragou”. George W. Bush negou em suas campanhas, mas admitiu em certos momentos de sua presidência que usou drogas no passado. Barack Obama, em sua autobiografia, escreveu sobre seu uso de maconha e cocaína durante a juventude.

Já no Brasil, particularmente na eleição para prefeito da cidade de São Paulo, a campanha começou com o candidato Pablo Marçal acusando dois concorrentes de uso de cocaína, uma acusação que ele sustenta e que foi incorporada pelo atual prefeito em seu discurso contra Guilherme Boulos. No campo progressista e de centro-esquerda, com Tabata Amaral e Boulos, o foco está na tentativa de associar os candidatos de direita ao Primeiro Comando da Capital (PCC), não diretamente ao uso de drogas, mas ao envolvimento no mercado de drogas e no crime organizado.

Em ambos os casos, guardadas as diferenças nas táticas e formas de abordagem, as drogas são um ponto central nas eleições de São Paulo. O uso de substâncias é colocado como uma forma de destruir a moralidade, ética e conduta dos candidatos, explorando o estigma social para difamá-los e, de maneira sensacionalista, impactar o voto conservador.

Esse cenário é tão intenso que até candidatos progressistas, como Boulos, recuaram em declarações de apoio à legalização da maconha, visando conquistar o voto do público evangélico, uma manobra já vista também com Marcelo Freixo nas eleições do Rio de Janeiro e que é um tiro no pé. Principalmente porque a cannabis como medicina já é regulamentada federalmente pela ANVISA e está no SUS de mais de 24 cidades do Brasil.

Em um exercício hipotético, imaginando um futuro em que todas as drogas fossem descriminalizadas, legalizadas e regulamentadas — e, consequentemente, normalizadas, com muito menos estigma social em torno delas, como acontece com o álcool e o tabaco —, como seriam as eleições municipais de São Paulo?

Sem as drogas no centro do debate, teríamos uma mudança significativa nas estratégias eleitorais. As campanhas provavelmente se concentrariam mais em propostas concretas para questões como habitação, transporte, segurança pública e políticas sociais, em vez de ataques baseados na moralidade e na conduta pessoal dos candidatos. A política deixaria de se basear em estigmas sociais e moralistas, e o foco estaria no que realmente importa: soluções para os problemas reais da população.

Em suma, a presença das drogas como tema eleitoral revela não apenas o impacto social do proibicionismo, mas também como ele é utilizado como ferramenta política para mobilizar eleitores e moldar narrativas. Se o estigma em torno das drogas diminuísse com uma abordagem baseada na ciência e na educação, talvez as campanhas fossem mais produtivas e voltadas para o interesse público, em vez de ficarem presas a debates morais e acusações de caráter.

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